dezembro 20, 2008

Queridos Vizinhos

Aos do andar de cima:
Serve esta mensagem para vos pedir as minhas mais sinceras e profundas desculpas pelo incómodo que vos tenho causado ao longo de já vários meses. De facto, o meu sono aborrece qualquer um, num raio de vários kms. O meu silêncio não é, de todo, compatível com as vossas actividades domésticas - que incluem arrastar móveis às 23h, martelar às 2h e gritar (literalmente) ao telemóvel às 5h. Peço ainda humildemente perdão por cutucar o tecto com a vassoura ou mandar-vos calar da varanda. E para vos compensar tantas noites mal dormidas, prometo não respirar tão profundamente (ou não respirar de todo). Qualquer coisa que precisem – incluindo pregar pregos, disponham sempre. Mas só depois das 3h. Ok?!


Aos do mesmo piso, ainda que no outro extremo:
Antes de mais, folgo em saber que a sua esposa voltou para casa e que fizeram as pazes. Se fosse comigo também a trancava na rua, fazia-a chorar ‘baba e ranho’, obrigava-a a pontapear a porta e a implorar perdão ao mesmo tempo que fazia saber a todo o bairro que ela o traiu. Ou se calhar, até não. A expressão ‘vai ter com ele, vai’ não é suficientemente clara para perceber o que realmente se passou. Se foi crise de ciúmes, um reparo a um actor da novela que não lhe caiu no goto ou adultério comprovado. Nesse sentido, até lhe digo que ‘sua p***!’ não chega para a ofender. Estava mesmo a pedi-las. Anyway, reparei que a paz voltou a reinar neste piso. Desejo-lhe felicidades. Para si e para os seus.

Ao do lado:
Não que tenha alguma coisa com isso, mas a minha vida não me chega e não… portanto é só para saber: o vizinho mudou-se? Não o tenho ouvido a girar a chave na porta nem a entrar em casa com o bando de gente que costumava trazer (e que à saída, confundia a minha campainha com o interruptor da luz ou ficava a ‘matar’ a conversa encostada à minha porta). Estou preocupada consigo. Vai que lhe deu alguma coisa e está aí esticado na banheira já em avançado estado de decomposição?! Ainda não me cheirou a nada, é certo – mas tanto sossego, a pessoa estranha. No fundo, homem, você é um chato. Os inquilinos anteriores, por exemplo, conseguiam ser ouvidos por todo o prédio. E eram muito mais divertidos: a moça berrava desalmadamente durante o acto sexual – e se eles o praticavam intensa e exaustivamente, hein?! Fosse a que horas e dia, fosse. Ah… e o morador anterior ao casal Maravilha, tendia para a esquizofrenia e/ou psicopatia passando a noite a correr estores. Até ao dia em que um outro vizinho lhe arrombou a porta e lhe acertou com dois moquencos no nariz. Se calhar vou-lhe pedir que vá ver de si também.

Àqueles que arrombaram as portas de entrada ou que de alguma forma se esquivaram para dentro do prédio e que viveram nas escadas de acesso às garagens durante semanas:
Sei que já não habitam por aqui, mas para o caso de terem escolhido outro imóvel deixo-vos algumas dicas para evitarem futuros conflitos: não se fazem necessidades fisiológicas nos degraus. Não se deixa o lixo espalhado pelo corredor. Não se depositam pratas queimadas nas caixas de correio das pessoas. Para assustar, a malta já lá tem as contas.
E já agora, deixem a droga. É cara e não vos faz bem nenhum.

1 comentário:

  1. Muito gosto eu dos teus vizinhos, melher!!! Esse prédio é sempre muito animado... Benza o Fiat Uno todo podre e abandonado que jaz no início da rua, albergue de gente de seringa ao pendurão no bracinho...

    Ai, que vida boa era a de Lisboa!!!

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Não tens vida, pois não?!